25 de janeiro de 2011

Interurbano

- Alô.
- Oi, o José está?
- Não tem ninguém aqui com esse nome.
- Desculpa foi (des)engano.

17 de janeiro de 2011

Primeiro Encontro

- De todas as maneiras que há de amar, nós já nos amamos.
- Com todas as palavras feitas pra sangrar, já nos cortamos.
- Agora já passa da hora, tá lindo lá fora.
- Larga a minha mão, solta as unhas do meu coração.
- Que ele anda apertado...
- Bom saber que ao menos a nossa música você lembra.
- Isso porque alguém sempre me liga e deixa esta música falar.
- Desculpa... Eu juro que paro.
- Não por favor... Continue.
-... - O silêncio a violentou, como de costume. Aquele vazio dele. Nele, deixado por ele.
- De todas as maneiras, que há de amar...
- Nós já nos amamos.
- Com todas as palavras feitas pra humilhar...
- Nos afagamos.


Agora já passa da hora, solte sua mão.
Largue as unhas de seu coração.
Que ele anda apertado.
E desanda a bater desvairado quando  entra o verão.

14 de janeiro de 2011

Relicário

Triiim

- Alô.
- Alô, eu poderia falar com a Alice?
- Ehh... Bem... Então você ainda não soube?
- Ainda não soube? O quê? Aconteceu alguma coisa?
- A Alice sofreu um acidente na semana passada, está no hospital. Me admiro que você não saiba. Quem é?
- Meu Deus, mas como ela está? É grave? Vocês estão precisando de alguma coisa? Você que é o André, irmão dela?
- É, eu sou o Andre. E eu lamento informar que o estado é grave sim. Ela já passou por três cirurgias. Ainda essa semana ela deve ser submetida a mais uma.
- Nossa, eu nem imaginava. Eu sou a Tamíres, estudei com ela. Nós perdemos contato há muito tempo, mas eu consegui o telefone de vocês com uma amiga que tínhamos em comum na época.
- Tamíres, nossa. A Alice estava falando tanto em você nos últimos meses, em como ela queria retomar contato. Vocês eram tão próximas. Por que você não vai visitá-la? Ela adoraria te ver, mesmo nessas circunstâncias.
- Acho que farei isso mesmo. Você pode me dar o endereço do hospital? Vou agora mesmo.
- Eu estou indo para lá agora. Você está aonde? Eu posso te pegar e daí vamos juntos.
- Pensando bem, acho melhor ir outro dia, estou tão atarefada hoje.
- Então espera um pouquinho que eu vou te passar o endereço do hospital.
- Não, não. Digo, vá logo pois devem estar te esperando lá. Eu te ligo mais tarde, pode ser?
- Mas... Ah, então tá. Você é quem sabe.
- Então até mais tarde André. Mande um beijo para ela por mim.
- Tudo bem, mas Tamíres...
- Oi...
- Vê se não repete o erro hein... A minha irmã quase não suportou o seu abandono da primeira vez, se não for pra ficar não apareça lá viu.
- Que isso André? Não sei do que você está falando.
- Eu não vou discutir nada com você. Mas se for embora, pelo menos olhe para trás dessa vez.
-...
- Adeus Tamíres.
- Adeus André.

12 de janeiro de 2011

Secretária Eletrônica.

Você ligou para José C. Faria. Deixe seu recado após o bip.

Biiip.

Oi José, 
Quanto tempo, não? Já se passaram dois anos sabia? Não sei porque resolvi te ligar, mas liguei. E só pra variar, desta vez você não está. Aliás, eu acho que nunca esteve. Culpa deste maldito número que eu não esqueço. Dessa cisma em discá-lo de tempos em tempos. Só para ver se você atende. Apenas para ouvir o seu Alô e desligar em seguida. Este maldito telefone. Foi num tom de ocupado que você foi embora. Um tu-tu-tu. E parou, parou o meu tum-tum-tum... O meu telefone continua com aquela maldita interferência. Você disse que daria um jeito em tudo, lembra? Mas que merda, você não deve lembrar. Cara, eu te odeio por não lembrar, das nossas malditas juras de amor eterno. Daquele maldito anel que você me deu. Das cartas que escreveu. Provas a meu favor José. Mas de que valem essas memórias? De que vale tudo isso meu amigo? Me pergunto se ainda posso te chamar de amigo. Acho que sim, eu é que perdi lugar na sua vida. Pois a minha ainda está cheia de você. Agora eu quero deixar você em paz, me livrar de você enquanto esvazio minha boca destas palavras entaladas. Eu quero me deixar em paz. Embora a minha emoção lhe amaldiçoe até o fim de seus dias, minha razão lhe deseja um futuro sem mulheres psicóticas e mal-amadas. Adeus meu querido amigo.

Ah, só para constar como última observação. Eu sempre soube que ela existia, só não quis te aborrecer.

Adeus.