16 de junho de 2011

Enquanto houver fôlego.

Can you feel the lights on us?

Deitados, dedos e pernas entrelaçados. Emanavam o orgulho da primeira noite. Os olhos de Sofia depararam-se com os de João a percorrer seu corpo, parando quando seus olhares se cruzaram. Ele sorriu.
Ela observava as paredes, testemunhas da dança não-coreografada de seus corpos. Permaneceram ali durante horas apenas olhando um para o outro até os primeiros raios de sol invadirem o quarto. 
- Eu te desejo Sofia, seu corpo, sua alma. Te quero toda.

13 de junho de 2011

Das cartas escritas.

Venha quando quiser, ligue, chame, escreva - tem espaço na casa e no coração, só não se perca de mim. 
Caio Fernando Abreu
Querido Pedro, 
o tempo tem me trazido certas lembranças que pensei não mais possuir, trejeitos teus que havia esquecido, perdoa-me, mas minha memória permanece tão falha quanto nos anos que partilhaste comigo. Recordo-me de um dia em particular, não sei ao certo quanto tempo faz, mas sei que era um sábado de outono. Estávamos sentados na varanda com os pés balançando no ar, falaste naquela ocasião sobre partir. Lembro-me de ter soltado uma sonora gargalhada, como podias pensar em ir e não mais voltar? Não pensavas em mim, no vazio que me preencheras e que nada mais poderia? Aquele riso nervoso só afirmava o quanto me doía cogitar a possibilidade de não te importares com meu sofrimento - ainda me dói não teres pensado nele. Mal posso fechar os olhos sem lembrar do teu corpo estendido, ensanguentado. Penso ter adquirido toda tua negatividade no post mortem, no contato agora frio, vazio. Nossos olhares se cruzando pela última vez, as lágrimas nos olhos teus, jorrando dos olhos meus. Não há um dia em que repouse minha cabeça no travesseiro e não pense em ti antes de dormir - quando não me vem à face o choro. Sequer as palavras tem me satisfeito, meus livros estão empoeirados na estante, ansiosos pelos dedos frios a percorrê-los. Eu estou na estante, abandonada, por mim. Largada às traças.
Hoje o nosso F.P. faria 123 se estivesse vivo, você, do alto dos seus 23, diria-me para guardar as pedras de meu caminho, para que construíssemos juntos um castelo. Cadê você? Onde está o castelo que prometeste-me ajudar a construir?
Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.
Hoje já é outro dia meu bom amigo... outro dia.

Sem mais,
pseudônimos,
Rafaella.