24 de dezembro de 2011

Rascunhos sem fim...

Querido Pepe,

esses dias têm sido difíceis para mim, e o são ainda mais por não estares aqui para me consolares. Há vezes que sinto tanto a tua falta que ouço tua voz sussurrando em meu ouvido antes de dormir, já cheguei até a levantar-me da cama. Queria-te aqui Pedro, porque eu não consigo confiar em mais ninguém, porque eu não  me sinto capaz de seguir sozinha. Sabe aquele amor do qual te falei, o que eu achei que fosse ser para sempre? Foi tudo ilusão meu amigo, até mesmo a amizade que pensei estar construindo. Acho que eu só servia para você e não há ninguém como você neste mundo jovenzinho. Como poderia? És único, especial, sempre serás.
Há pouco visitei aquele lugar que apenas nós dois conhecíamos, tudo mudou por lá também... Por que as coisas não podem ser as mesmas? Estou cansada de tanta mudança.

---x

Querido Pepe,

escrevo-lhe esta carta com o coração devastado e venho por meio da mesma pedir-lhe que cuide deste anjinho que sobe, cuide até que eu chegue para ficar com vocês. Eu sei que você não me entende agora, eu honestamente espero que o faça um dia, decerto o farás. Pedro, onde está aquela cola mágica da qual tanto falavas? Preciso colar umas coisinhas, um coração, esse orgulho partido e uma alma despedaçada. Como esconder toda essa dor que me corrói? Como disfarçar os olhos tristes e vazios? Não me venhas com os sermões de sempre, não quero aprender nada sozinha. Acostumaste-me mal, aninhei-me em teu colo e simplesmente partiste.
Sem um ponto definitivo... Somos reticências Pedro, e reticências são mal-resolvidas! Cheios de interrogações e teorias absurdas.

25 de novembro de 2011

Transcrição.

Miniatura,
tudo se complicou ainda mais, o que doía suportavelmente hoje é intolerável. Não aguento mais viver em meio a toda essa podridão, falsidade, mágoa, tudo isso que sempre esteve a minha volta. Não aguento mais ter que me levantar sem ver sentido algum na vida, não aguento e não consigo mais levar as coisas adiante. Você foi a melhor coisa que aconteceu em toda a minha vida Sofi, minha melhor amiga, meu amor. Minha pequena, preciso que você seja forte pela Nanda, ela vai precisar de você. Não deixe que nada apague esse brilho que você carrega nos olhos, não confie em qualquer pessoa, algumas podem te magoar e você não merece isso. Miniatura, você é uma garota muito forte, embora não consiga ver isso... E é a única pessoa que eu sinto machucar com a minha decisão, mas vou te magoar uma vez só, a unica e última vez. É melhor assim, tente me entender. E Sofi, me perdoe.

Para Sofia, com amor.
Do seu Pedro.

7 de novembro de 2011

Companhia dentro da própria pele.

E quando a vida te sorri com graça, 
E quando o amor o ventre teu habita...

Sofia era feliz, e porque era feliz as flores nasciam das cinzas.
Do fim fazia-se recomeço.
Transformava dor em alimento.
Solidão em acalento.
Mas já não estava mais sozinha.
Em seu ventre a germinar
um ser de amor e alegria.
Enfim tinha Sofia
sua eterna companhia.

4 de novembro de 2011

Post explicativo.

Olá poucas pessoas que acompanham este meu querido blog, eu devo sumir por um tempo por motivos pessoais, este blog é terapia pra mim, mas, no momento, eu preciso apenas sentir toda a dor que está aqui dentro me corroendo. Está insuportável, mas vai passar. Não dizem que o tempo cura tudo^^?
Beijos e até a volta!
(Que seja breve)


Ficar sem você é como viajar para fora de mim com um bilhete só de ida.

3 de novembro de 2011

Frases soltas com todo o sentido do mundo.

"Em vez de tentar escapar de certas lembranças, o melhor é mergulhar nelas e voltar à tona com menos desespero e mais sabedoria."
"Os obstáculos são incontáveis, mas servem de estímulo."
"o que ela espera ser para sempre"  
"... parece besteira gostar tanto assim de alguém, mas pra ser amor só pode ser com nós dois..."
"Eu amo.
Tu amas.
Me amas."
"Declaro por meio deste ato público, te amarei para sempre"
"Loucura: imaginar a vida sem você"
"Eu adoro olhar você enquanto dorme e pedir a Deus que nenhum mal lhe aconteça"
"Se eu pudesse abrir uma porta que me levasse a qualquer lugar, eu abriria uma direto a você."

Ficar sem você é como viajar para fora de mim com um bilhete só de ida.

1 de novembro de 2011

Se você voltar...

Vai, se você precisa ir
Não quero mais brigar esta noite
Vai, clareia um pouco a cabeça
Já que você não quer conversar.
Já brigamos tanto
Mas não vale a pena
Vou ficar aqui, com um bom livro ou com a TV
Sei que existe alguma coisa incomodando você
Meu amor, cuidado na estrada
E quando você voltar
Tranque o portão
Feche as janelas
Apague a luz
e saiba que te amo...

There's no need to worry.

A vida é feita de adeus, uns mais doloridos que outros.
A perda que hoje parece irremediável será amenizada pelo tempo, as lágrimas que insitem em escorrer pela face logo secarão. A culpa, o aperto no peito, a falta de apetite são apenas sintomas de abstinência. Em breve tudo se fará novo. E tudo será lindo de novo.
Os dias lhe sorrirão e o vento acariciará seu rosto.

Isso não é final, é recomeço.

28 de outubro de 2011

São Judas Kadafi

Aproveitando o gancho da Malhação de Judas.
Dia desses os assuntos levianos que precedem as aulas da faculdade deram lugar a uma discussão acerca da execução morte do Kadafi. Pipocaram aquelas frases típicas de: "Ele bem que merecia", "Já foi tarde", "Tinha que ter sofrido mais". Eu retruquei, sendo mais uma vez a única com opinião diferente, questionando-os o porquê de toda aquela alegria perante a morte e humilhação de um ser humano. 
"Você não banca a sabe-tudo? Não sabe quantas pessoas ele matou?"
Sim, eu sabia, eu sei, mas meu senso de humanidade não me permite ficar alegre ao ver imagens de uma pessoa de cabelos desgrenhados, sangrando, atordoada, sendo jogado de um lado para o outro, de um caminhão para o chão, apresentada como um troféu. Por pior pessoa que ele tenha sido assistir aquelas cenas me fez virar o rosto, ouvir seus gritos, implorando que não o executassem ali, fez lágrimas escorrerem dos meus olhos. O homem que me causava repulsa fez aflorar meu lado mais humano. A compaixão que senti dele, a mesma que ele dispensou ao dilacerar suas vítimas, me fez refletir sobre a atitude dos rebeldes. Matá-lo daquela forma, na minha opinião, tornou-os semelhante a ele. Acho que é exatamente isso que nos diferencia, eu não me sinto especial, nem superior a ninguém, logo o que não quero para mim, não quero para os outros também.
A Malhação de Judas me remete a um medo da infância, medo da maldade do traidor e dos linchadores.
Hoje medo da maldade do ditador e dos rebelados.

27 de outubro de 2011

Kiss me here, yeah baby, and go rest...

 Todo mundo tem um artista preferido, alguém com quem se identifique, que te inspire. A Amy não era um exemplo a ser seguido, tinha um talento quase surreal, mas não tinha autocontrole. Tinha uma voz incrível, mas não tinha amor próprio. Ela se destruiu, se matou, mas gritou por ajuda, pediu, implorou.
Acho que ninguém ouviu. Ninguém ouviu ela dizer que não queria beber de novo, que só precisava de um amigo. Ninguém ouviu que esse amor que ela sentia pelo Blake era destrutivo e que ela não queria aquilo, mas não sabia como se livrar dos próprios sentimentos. Ninguém nunca vê nem ouve nada até que seja tarde demais.

Se não enxergam o quanto uma pessoa pública está perdida, pobre daquele anônimo, que ficará marcado como o bêbado, o drogado, o fraco.

 À uma Amy que tinha o talento pra dar certo. À uma garota de carisma e voz inacreditáveis. À uma alma atormentada.  
Um brinde à solidão coletiva.

27 de setembro de 2011

I didn't write it, but I meant it.

Olhou-o com olhos úmidos, tentando engolir o soluço, procurava algum brilho para se agarrar.
“Então é isso?”
“Acho que sim.”
“Mas...”
“Não, não temos mais espaço para isso, sejam palavras ou gestos; não nos resta mais nada.”
E assim ela se pos a chorar, como que pela morte de algo importante, insubstituível, sugando todo ar a sua volta na esperança de que acabasse. Ele a abraçou evitando que caísse, sempre foram o pilar um do outro, e deixá-la desabar agora seria covardia.
“Desculpa, sei que não queria assim.”
“Você não tem o direito de pedir desculpas, de falar que vai melhorar, ou que eu sou a melhor coisa que já te aconteceu. Eu sei de tudo isso, e é tudo verdade, mas não é da sua boca que essas palavras devem sair.” Ela falava em gritos com o rosto afundado no peito, como que tentando entrar lá, entender o que se passava ali.
“Então o que você quer que eu diga?”
“Que você vai voltar.” Com a pouca força que restava agora tentava se afastar, mas os braços a sua volta cada vez mais apertavam.
“Não posso mentir para você. Seria injusto. Mas não vou te soltar até ter certeza que não vai sair daqui e fazer alguma besteira.”
“Claro que pode, você podia mentir pra sempre para mim, me faria feliz.”
“Mas não seria a verdade.”
“Para mim seria.”
“Eu te amo.”
“Mentiroso, agora eu já sei a verdade. E não importa o que faça, nunca mais será a mesma coisa. Uma ferida após aberta fecha, mas nunca volta a ser igual a antes.”
“Eu sei. Desculpa.”
“Já disse para não falar isso. Posso ir embora agora?”
“Só mais um pouco, por favor.”
“Se você não me deixar ir agora, vou achar que quer que eu fique.”
“Ta.”
“Eu te amo.”
“Eu sei.”
E assim a porta foi aberta, deixando ir um coração despedaçado e fechando outro partido. 

9 de setembro de 2011

Carpe Diem

Ele, bruto, ranzinza, apaixonado.
Inconsequente.
Entre todas as atitudes estúpidas que teve na vida, a maior foi tentar controlá-la.
Ela, um espírito livre, mulher de 50 sorrisos.
Sinceros.
Vivia conforme sua própria vontade.
Inconsequência consciente.
Partiu enfrentando a repressão abstrusa.
Carpe Diem escrito com sangue no chão.

2 de agosto de 2011

Sofismas de Sofia.

Sofia esperava uma resposta significativa, um sinal dos céus. Não queria sentir-se abandonada, não de novo, não poderia suportar. As noites tornaram-se eras a passar arrastadas, agora não só a alma, mas o corpo se cansava, desgastava, corroía-se. Implorava (mesmo sem ajuda de palavras difíceis) por ajuda, por alguma solução imediata. Pobre Sofia! Não sabe viver sem imediatismos e acaba por afundar-se em métodos paliativos de existência insofrível. A dor e solidão aplacadas por mentiras, histórias inventadas, nas quais tudo gira em torno da Princesa Sofi - a doce e ingênua. Agora mulher, de língua afiada, insensível, solitária. Buscava na ciência, drogas que a fizessem abandonar a consciência antes que sua cabeça tocasse o travesseiro, e na religião, buscava razões para não enjeitar-se por completo. Vivia um dia de cada vez, torcendo para que aquele fosse o último, deixando os anos escorrerem, junto à tinta vermelha,  ralo abaixo.

8 de julho de 2011

(In)correspondência.

Palavras têm realmente mais poder do que se imagina, quando ditas e, principalmente, quando não. Enviei uma carta e desfiz-me de um sonho. Escrita com lágrimas e muito pesar, doída, quase covarde perante a iminente entrega. Respiro fundo, as lágrimas chegam rapidamente aos olhos ao avistar a cuba amarela, mãos trêmulas. Milhões de pensamentos congestionando minha mente, não me contenho e deixo o choro correr solto, sinto o peso dos olhares alheios, o que torna tudo ainda mais difícil. Metade do envelope passado pela fresta, agora seguro apenas uma pontinha, ao deixá-lo cair balbucio um "Au revoir rêve chéri".

Au
revoir.

16 de junho de 2011

Enquanto houver fôlego.

Can you feel the lights on us?

Deitados, dedos e pernas entrelaçados. Emanavam o orgulho da primeira noite. Os olhos de Sofia depararam-se com os de João a percorrer seu corpo, parando quando seus olhares se cruzaram. Ele sorriu.
Ela observava as paredes, testemunhas da dança não-coreografada de seus corpos. Permaneceram ali durante horas apenas olhando um para o outro até os primeiros raios de sol invadirem o quarto. 
- Eu te desejo Sofia, seu corpo, sua alma. Te quero toda.

13 de junho de 2011

Das cartas escritas.

Venha quando quiser, ligue, chame, escreva - tem espaço na casa e no coração, só não se perca de mim. 
Caio Fernando Abreu
Querido Pedro, 
o tempo tem me trazido certas lembranças que pensei não mais possuir, trejeitos teus que havia esquecido, perdoa-me, mas minha memória permanece tão falha quanto nos anos que partilhaste comigo. Recordo-me de um dia em particular, não sei ao certo quanto tempo faz, mas sei que era um sábado de outono. Estávamos sentados na varanda com os pés balançando no ar, falaste naquela ocasião sobre partir. Lembro-me de ter soltado uma sonora gargalhada, como podias pensar em ir e não mais voltar? Não pensavas em mim, no vazio que me preencheras e que nada mais poderia? Aquele riso nervoso só afirmava o quanto me doía cogitar a possibilidade de não te importares com meu sofrimento - ainda me dói não teres pensado nele. Mal posso fechar os olhos sem lembrar do teu corpo estendido, ensanguentado. Penso ter adquirido toda tua negatividade no post mortem, no contato agora frio, vazio. Nossos olhares se cruzando pela última vez, as lágrimas nos olhos teus, jorrando dos olhos meus. Não há um dia em que repouse minha cabeça no travesseiro e não pense em ti antes de dormir - quando não me vem à face o choro. Sequer as palavras tem me satisfeito, meus livros estão empoeirados na estante, ansiosos pelos dedos frios a percorrê-los. Eu estou na estante, abandonada, por mim. Largada às traças.
Hoje o nosso F.P. faria 123 se estivesse vivo, você, do alto dos seus 23, diria-me para guardar as pedras de meu caminho, para que construíssemos juntos um castelo. Cadê você? Onde está o castelo que prometeste-me ajudar a construir?
Eu amo tudo o que foi
Tudo o que já não é
A dor que já não me dói
A antiga e errônea fé
O ontem que a dor deixou
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia.
Hoje já é outro dia meu bom amigo... outro dia.

Sem mais,
pseudônimos,
Rafaella. 

26 de maio de 2011

Pedro, o que é depressão? - Capítulo IV

- Não acredito que passaste por isso sem contar nada a ninguém. Como sobreviveste? - dizia, puxando-o para si, enquanto ele tentava, em vão, conter as lágrimas que já a algumas horas rolavam pelo seu rosto.
- Chora Pepe, chora. Pare de lutar contra seus sentimentos. Expele esta tristeza sem fim.
Permaneceram abraçados por alguns minutos, o soluçar sofrido de Pedro lhe cortava o coração, pensava no quão pequenas eram suas aflições se comparadas às dele. Por um instante sentiu-se uma tola, mas logo este sentimento passou, afinal, a intensidade dos problemas que nos acometem pode ser sentida e entendida apenas pelo acometido em questão.
Desvencilhou-se cuidadosamente de seu abraço, segurou-lhe os ombros posicionando-o frente a si e disse:
- Pedro, tu sabes bem o quanto eu gosto de você, não se faz necessário repeti-lo. Aliás, já foi um sacrifício enorme arrancar de mim esta verdade. Não quer mais ver-te sofrendo, expugnes esta tristeza, tens o mais lindo sorriso que já vi, não o deixes desaparecer.
Ele permanecia estático, com os olhos fixados nos dela, tentava expressar-se sem palavras pois as mesmas não lhe chegavam a boca. A sintonia entre eles era tamanha, que conseguira. Sem sequer movimentar os lábios a fizera saber o quão importante era o seu apoio, e quanta diferença fazia em sua vida, desde que, naquele primeiro dia, seus olhares se cruzaram sabia que a amizade havia sido selada. Amizade? Mais que isso, um amor de verdade, despretensioso e desinteressado. Como se houvesse entre eles uma ligação mística, entre almas.
- Você é inexplicável - balbuciou com certa dificuldade, a voz ainda embargada pelo choro - às vezes penso que é fruto da minha imaginação.
Os olhos encheram-se de lágrimas novamente, era difícil revirar as memórias, tão doloridas, sem desfazer-se da postura jovial e tranquila que levava consigo.
- Como consegues esconder tudo isso? Não deixas transparecer nem por um instante, teu olhar é ardiloso, enganador. - perguntou Sofia, com real curiosidade.
Por mais que tentasse, não importa quais métodos utilizasse, não conseguia esconder a tristeza que sentia, sentia asco do convívio social, não queria nada além de seus livros por perto e deixava isso bem claro, senão com atitudes, com o olhar sincero - até demais.
- Sofi, há muita coisa a aprender, você é apenas uma criança e, apesar de tudo pelo que passou, verá que não vale a pena isolar-se do mundo. Pelo contrário, deve se divertir com o que ele tem a oferecer, aproveitar-se das boas coisas... Deixe que as ruins o tempo ameniza.
Ela forçou um sorriso, puxou seu rosto para si e deu-lhe um beijo, ao afastar-se passou a língua sobre os lábios e pôde sentir aquele sabor tão familiar.
Que escárnio do destino, Sofia passara tantos anos sentindo o gosto amargo de suas próprias lágrimas e agora sentia o sabor daquelas que pertenciam à pessoa que mais a fazia feliz.

25 de maio de 2011

Contraste.

É incrível a habilidade que temos de nos desfazer das coisas simples da vida. Num passado final de semana, refiz o trajeto que faço cotidianamente dirigindo-me ao trabalho. Qual não foi a minha surpresa ao flagrar-me admirando o caminho, o mesmo das segundas e terças feiras monótonas e sonolentas. Observava os raios de sol atravessando a embarcação de ponta a ponta, como um manto de luz acariciando a superfície. E quão calmo estava o mar, quase que propositalmente para entrar em harmonia com aquele lindo dia.
Lembrei-me de um dia em que estava a observar o mar, com sua inquietude perturbadora, transformando a minha na mais autêntica paz.

24 de maio de 2011

Uma carta para não ser entregue.

Querido Pepe,

Como estás? Tuas cartas não chegam mais, aconteceu algo? Tento convencer-me que há algo de errado com o correio, mas a razão não me permite tais luxos. Sei que tudo está errado para ti, tens o peso do mundo sobre as costas, e eu aqui, tão distante. Por que não vens para perto? Onde eu possa lhe afagar os cabelos, onde possas repousar tua cabeça sobre o meu colo e chorar, pôr tudo para fora, chega de sofrer em silêncio. Sim, eu soube do falecimento de seu pai, e não sabes o quanto o sinto, mas sinto mais a tua falta. Podes achar egoísmo da minha parte, de fato, sabes o quão egoísta eu sou, mas sinto falta das nossas horas desperdiçadas em disputados riffs e acordes desarmoniosos, nossos debates calorosos e discussões... Ainda acho Poe melhor que Henry James, embora este último tenha conquistado um lugar cativo em minha estante. Há tantas coisas que queria lhe falar, mas agora todas elas parecem fugir da minha mão trêmula, que lhe escreve com saudade, com verdade e cheia de solidão. Aliás, depois de tua última carta, foi tudo que me sobrou, a solidão... e me agarrei a ela, a fiz fiel companheira. Saudade dói Pepe, dói lá no fundo da alma, não espero que me compreendas, mas queria que estivesses ao meu lado, que brigasses comigo toda vez que fizesse besteira, que me desses os teus conselhos dos quais sempre fiz questão de me desfazer. É triste perceber a beleza dos castelos de areia apenas depois do vento tê-los destruído. Serás sempre a minha fortaleza, meu escudo, e mais que tudo, minha fraqueza. Minha solidão é culpa tua, minha tristeza constante advem de você. Te amo e quero livrar-me de ti.

Em definitivo.

Com amor, 
e muita raiva, 
Sofia.

3 de abril de 2011

Pedro, o que é depressão? - Capítulo III

Conforme adentrava pelos ombrais da porta dianteira, Sofia apenas se perguntava como os pais de Pedro tinham condições de mantê-lo naquela escola. "Ele só pode ser bolsista. Só pode."
- Sofi, este é meu pai, José. - disse apontando na direção do sofá.
Ela olhava fizamente para o rosto daquele senhor, um rosto de aparência mui cansada. Algum tempo depois, descobriria que a vida havia ido cobrar os anos de vida boêmia daquele jovem idoso. Os olhos fundos, a pele fina e o tubo de oxigênio. Sinais claros que o câncer já havia tomado para si todo o corpo do senhor José.
Ela estendeu a mão enquanto agradecia por tê-la permitido estar ali.
- Não Sofi, ele já não controla bem os movimentos. Mas pelo olhar dá pra ver que está feliz por estar aqui.
Sofia agora via um outro lado de Pedro, tão preocupado e solícito com o pai, diferente do tipo adolescente revoltado que conhecera. E havia algo escondido em seu olhar, algo que não podia ainda decifrar.
- Vem, vamos para o meu quarto.
- Mas e a sua mãe Pepe?
O semblante alegre de Pedro transtornou-se.
- Ela não está. Agora vamos.
O quarto de Pedro parecia um lugar à parte da casa, os móveis em prefeito estado de conservação, os pôsteres colados nas paredes, os instrumentos próximos à janela.
Ele havia criado um mundo exclusivamente seu, um mundo um pouco mais colorido.
- Senta aqui Sofi - disse enquanto a trazia para perto de si - deixa eu te contar um pouco mais da minha história.

22 de fevereiro de 2011

Pedro, o que é depressão? - Capítulo II

A amizade de Pedro e Sofia fluiu naturalmente nos meses seguintes, pareciam duas metades de uma mesma alma. Os mesmos gostos, mesmos trejeitos, a mesma solidão. Sofia finalmente descobrira o significado prático da palavra amigo. Com o tempo, os 17 minutos antes da aula e os vinte minutos de intervalo tornaram-se insuficientes para suprir a necessidade que tinham um do outro.
- Você quer ir lá em casa depois da aula? - perguntou ele - Pra gente bater um papo, ver um filme, sei lá.
Sofia não dispunha daquele tipo de liberdade, era filha de pais superprotetores. O que diriam da filhinha frequentando a casa de um sujeito qualquer após as aulas?
- Eu não sei Pedro. Não sei se deveria. - respondeu encabulada.
Ela acabara de completar 12 anos e embora tivesse maturidade superior a sua idade os pais a viam como uma garotinha ingênua e indefesa. - Eu vou ver se posso.
- Tudo bem, nos vemos amanhã então - disse ele enquanto a abraçava - até mais miniatura.
Sofia adorava o sorriso de Pedro, a forma como os músculos se contraiam e pareciam apertar seus grandes olhos castanhos.
Aos 16 anos, Pedro cursava o primeiro ano do ensino médio e mostrava-se um aluno extremamente aplicado. Ele possuia uma habilidade que Sofia julgava formidável. Tinha um ar misterioso que atraia olhares por onde passasse, com seu All Starnos pés, um livro embaixo do braço e um casaco, parecia enfeitiçar todos ao redor. Mas era difícil de ser conquistado, as conversas em geral eram sobre assuntos cotidianos: filmes, livros, música etc. As cicatrizes que ele escondia eram bem mais profundas que aquelas que o casaco cobria. Pedro tinha medo que Sofia tivesse que lidar com os mesmos problemas pelos quais ele passou devido ao seu isolamento. Via nela uma maneira de fazer tudo diferente. Talvez pudesse fazer tudo dar certo desta vez.
Talvez.

19 de fevereiro de 2011

Pedro, o que é depressão? - Capítulo I

 Sofia era uma menina introvertida. Durante um longo tempo de sua vida sua única companha foram os livros, pelos quais era apaixonada. Sua vida acadêmica havia sido sempre um sucesso, pudera, ela se abstinha de todo e qualquer contato social, não havia nada que a distraísse. Durante toda sua vida escolar Sofia não conseguiu socializar-se com ninguém por mais de 32 minutos, o tempo necessário para realizar os trabalhos passados em sala de aula. Foi assim até chegar até a 6ª série. Ela sempre chegava exatamente 17 minutos antes das aulas começarem, sentava-se no banco embaixo da rampa de acesso ao segundo andar, abria o livro da vez e ali permanecia até escutar o segundo sinal. Naquele primeiro dia de aula ela repetia seu ritual, atravessou o portão de grades e seguia em direção ao seu lugar cativo concentrando-se apenas nas pontas de seus sapatos. Ao erguer a cabeça surpreendeu-se, o lugar estava ocupado. Deteve-se por um momento a lado daquele estranho, revirando suas memórias tentando encontrá-lo. Há muito não esbarrava com ninguém naquela parte da escola, aquele canto era só dela. Estava tão entretida em seus pensametos que não percebeu quando ele  levantou a cabeça e ergueu a mão em sua direção.
- Bom dia, estou roubando seu lugar? - disse ele com um sorriso largo no rosto.
Ela permanecia atônita, a única coisa com a qual não tinha perícia era no trato com outras pessoas. O pensamento fervilhava de possíveis respostas enquanto Sofia se mantinha estática.
- Tudo bem, eu já estava indo embora.
- Não - adiantou-se ela - erh, desculpe, eu não estou muito acostumada com pessoas. - disse tentando não espantá-lo.
Geralmente não se sentia à vontade em meio a elas, mas com ele era diferente. Ele tinha os mesmos trejeitos, até a posição em que estava sentado, pernas cruzadas, tronco encurvado e o livro posicionado na mão direita. De alguma forma, Sofia se via naquele jovem de longos cabelos negros e pele tão pálida quanto aquela que imaginava ser a do vampiro Antoiné.
Ele reergueu a mão em sua direção enquanto se apresentava.
- Muito prazer, meu nome é Pedro. É meu primeiro ano aqui, será que poderia me apresentar a escola?
- Seria um prazer te acompanhar, à propósito, eu me chamo Sofia. - respondeu ainda desconfiada enquanto apertava sua mão estendida -Eu posso perguntar qual livro está lendo?
- Ah, claro. - falou enquanto passava para suas mão uma cópia de "Admirável Mundo Novo" - Conhece?
Soava o primeiro sinal quando ela respondeu que aquele era um de seus livros favoritos. Sofia sorria um sorriso amarelo enquanto pensava no que diria a seguir, os incontáveis treinos frente ao espelho de nada adiantavam agora.
- O que você acha de debatermos ele qualquer dia então? Ao que parece teremos boas conversas por aqui antes do segundo sinal. - disse Pedro, com um sorriso que suprimia todo e qualquer anseio de Sofia.

25 de janeiro de 2011

Interurbano

- Alô.
- Oi, o José está?
- Não tem ninguém aqui com esse nome.
- Desculpa foi (des)engano.

17 de janeiro de 2011

Primeiro Encontro

- De todas as maneiras que há de amar, nós já nos amamos.
- Com todas as palavras feitas pra sangrar, já nos cortamos.
- Agora já passa da hora, tá lindo lá fora.
- Larga a minha mão, solta as unhas do meu coração.
- Que ele anda apertado...
- Bom saber que ao menos a nossa música você lembra.
- Isso porque alguém sempre me liga e deixa esta música falar.
- Desculpa... Eu juro que paro.
- Não por favor... Continue.
-... - O silêncio a violentou, como de costume. Aquele vazio dele. Nele, deixado por ele.
- De todas as maneiras, que há de amar...
- Nós já nos amamos.
- Com todas as palavras feitas pra humilhar...
- Nos afagamos.


Agora já passa da hora, solte sua mão.
Largue as unhas de seu coração.
Que ele anda apertado.
E desanda a bater desvairado quando  entra o verão.

14 de janeiro de 2011

Relicário

Triiim

- Alô.
- Alô, eu poderia falar com a Alice?
- Ehh... Bem... Então você ainda não soube?
- Ainda não soube? O quê? Aconteceu alguma coisa?
- A Alice sofreu um acidente na semana passada, está no hospital. Me admiro que você não saiba. Quem é?
- Meu Deus, mas como ela está? É grave? Vocês estão precisando de alguma coisa? Você que é o André, irmão dela?
- É, eu sou o Andre. E eu lamento informar que o estado é grave sim. Ela já passou por três cirurgias. Ainda essa semana ela deve ser submetida a mais uma.
- Nossa, eu nem imaginava. Eu sou a Tamíres, estudei com ela. Nós perdemos contato há muito tempo, mas eu consegui o telefone de vocês com uma amiga que tínhamos em comum na época.
- Tamíres, nossa. A Alice estava falando tanto em você nos últimos meses, em como ela queria retomar contato. Vocês eram tão próximas. Por que você não vai visitá-la? Ela adoraria te ver, mesmo nessas circunstâncias.
- Acho que farei isso mesmo. Você pode me dar o endereço do hospital? Vou agora mesmo.
- Eu estou indo para lá agora. Você está aonde? Eu posso te pegar e daí vamos juntos.
- Pensando bem, acho melhor ir outro dia, estou tão atarefada hoje.
- Então espera um pouquinho que eu vou te passar o endereço do hospital.
- Não, não. Digo, vá logo pois devem estar te esperando lá. Eu te ligo mais tarde, pode ser?
- Mas... Ah, então tá. Você é quem sabe.
- Então até mais tarde André. Mande um beijo para ela por mim.
- Tudo bem, mas Tamíres...
- Oi...
- Vê se não repete o erro hein... A minha irmã quase não suportou o seu abandono da primeira vez, se não for pra ficar não apareça lá viu.
- Que isso André? Não sei do que você está falando.
- Eu não vou discutir nada com você. Mas se for embora, pelo menos olhe para trás dessa vez.
-...
- Adeus Tamíres.
- Adeus André.

12 de janeiro de 2011

Secretária Eletrônica.

Você ligou para José C. Faria. Deixe seu recado após o bip.

Biiip.

Oi José, 
Quanto tempo, não? Já se passaram dois anos sabia? Não sei porque resolvi te ligar, mas liguei. E só pra variar, desta vez você não está. Aliás, eu acho que nunca esteve. Culpa deste maldito número que eu não esqueço. Dessa cisma em discá-lo de tempos em tempos. Só para ver se você atende. Apenas para ouvir o seu Alô e desligar em seguida. Este maldito telefone. Foi num tom de ocupado que você foi embora. Um tu-tu-tu. E parou, parou o meu tum-tum-tum... O meu telefone continua com aquela maldita interferência. Você disse que daria um jeito em tudo, lembra? Mas que merda, você não deve lembrar. Cara, eu te odeio por não lembrar, das nossas malditas juras de amor eterno. Daquele maldito anel que você me deu. Das cartas que escreveu. Provas a meu favor José. Mas de que valem essas memórias? De que vale tudo isso meu amigo? Me pergunto se ainda posso te chamar de amigo. Acho que sim, eu é que perdi lugar na sua vida. Pois a minha ainda está cheia de você. Agora eu quero deixar você em paz, me livrar de você enquanto esvazio minha boca destas palavras entaladas. Eu quero me deixar em paz. Embora a minha emoção lhe amaldiçoe até o fim de seus dias, minha razão lhe deseja um futuro sem mulheres psicóticas e mal-amadas. Adeus meu querido amigo.

Ah, só para constar como última observação. Eu sempre soube que ela existia, só não quis te aborrecer.

Adeus.