24 de maio de 2011

Uma carta para não ser entregue.

Querido Pepe,

Como estás? Tuas cartas não chegam mais, aconteceu algo? Tento convencer-me que há algo de errado com o correio, mas a razão não me permite tais luxos. Sei que tudo está errado para ti, tens o peso do mundo sobre as costas, e eu aqui, tão distante. Por que não vens para perto? Onde eu possa lhe afagar os cabelos, onde possas repousar tua cabeça sobre o meu colo e chorar, pôr tudo para fora, chega de sofrer em silêncio. Sim, eu soube do falecimento de seu pai, e não sabes o quanto o sinto, mas sinto mais a tua falta. Podes achar egoísmo da minha parte, de fato, sabes o quão egoísta eu sou, mas sinto falta das nossas horas desperdiçadas em disputados riffs e acordes desarmoniosos, nossos debates calorosos e discussões... Ainda acho Poe melhor que Henry James, embora este último tenha conquistado um lugar cativo em minha estante. Há tantas coisas que queria lhe falar, mas agora todas elas parecem fugir da minha mão trêmula, que lhe escreve com saudade, com verdade e cheia de solidão. Aliás, depois de tua última carta, foi tudo que me sobrou, a solidão... e me agarrei a ela, a fiz fiel companheira. Saudade dói Pepe, dói lá no fundo da alma, não espero que me compreendas, mas queria que estivesses ao meu lado, que brigasses comigo toda vez que fizesse besteira, que me desses os teus conselhos dos quais sempre fiz questão de me desfazer. É triste perceber a beleza dos castelos de areia apenas depois do vento tê-los destruído. Serás sempre a minha fortaleza, meu escudo, e mais que tudo, minha fraqueza. Minha solidão é culpa tua, minha tristeza constante advem de você. Te amo e quero livrar-me de ti.

Em definitivo.

Com amor, 
e muita raiva, 
Sofia.

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